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O sucesso da pornografia no cinema

a pornografia no cinema

O surgimento do cinema trouxe diversas mudanças para o cenário cultural do século XIX e os “pornógrafos” adotaram o cinema logo no início. Porém, os filmes nessa época eram primitivos, poucos tinham sons e cores, além de serem de curta duração e estereotipados em sua técnica e seu conteúdo. Em 1905, foi produzido um dos primeiros filmes pornográficos da história, o Peeping Tom in the dressing room. O filme, com pouco mais de 30 segundos, mostra de forma voyeurística, o personagem principal, Tom, olhando através de um buraco na parede uma moça se trocando.

Mesmo que o cinema se mostrasse uma tecnologia a ser explorada pela indústria pornográfica, ela demorou a conseguir se desenvolver no meio audiovisual, já que, na época, esse tipo de material sofria uma condenação severa. Além disso, não havia muito dinheiro a ser ganho com os filmes adultos, já que os equipamentos necessários para a produção eram muito caros e um público muito grande deveria consumir os filmes para que o investimento valesse a pena. Por esses motivos, os produtores decidiram manter a produção o mais simples possível.

Mas, na década de 1960, tudo mudou. Nessa época, o gênero começou a ganhar força e os filmes começaram a ser exibidos em salas especiais denominadas “peep booths”. Essas salinhas permitiram que os filmes começassem a ser consumidos de forma individual – os homens não precisavam mais se reunir em salas de cinema, com conhecidos e desconhecidos ao lado, para assistir um filme pornô. Agora, tudo o que precisava fazer era entrar em uma cabine independente, fechar (e trancar) a porta, inserir uma moeda e relaxar enquanto assiste a dois minutos de um filme trêmulo em uma tela pequena.

Ao final do filme, a tela escurece e o espectador tem uma escolha a fazer: sair da cabine ou rever o filme. Caso escolhesse a segunda opção, bastava pagar mais oito dólares e as imagens reapareciam na tela. Os lucros com essas cabines foram os responsáveis por criar a “era de ouro” da pornografia e também de encher os bolsos dos pornógrafos de dinheiro: mais de US$ 2 bilhões foram gastos nessas cabines na década de 1970.

O filme mais famoso do mundo

No ano de 1972 houve a estreia do filme pornográfico Garganta Profunda (Deep Throat), ultrapassando a linha entre o cinema pornô e o cinema mainstream. O filme foi o primeiro a mostrar cenas de sexo explícito nos cinemas tradicionais, ao contrário de seus concorrentes, que permaneciam na clandestinidade. Com um orçamento de US$ 25 mil – valor alto para uma produção pornográfica na época -, a obra contava com outras novidades, como a apresentação das personagens inseridas em um enredo.

Cartazes do filme Garganta Profunda 1972
Cartazes de divulgação do filme “Garganta Profunda” (1972), estrelado por Linda Lovelace

O longa-metragem de pouco mais de 60 minutos, financiado e distribuído por uma família de mafiosos, foi filmado em apenas seis dias, contando com roteiro e direção de Gerard Damiano. A protagonista, Linda Lovelace, com 23 anos na época, encarna o papel de uma mulher infeliz, já que nunca havia alcançado o prazer sexual. Ela, então, decide se consultar com o Dr. Young (Harry Reems), que enfim descobre qual o cerne do problema: o clitóris de Linda fica localizado no fundo da garganta. Com isso, ela passa a procurar por parceiros bem dotados e finalmente é capaz de chegar ao orgasmo praticando sexo oral. 

Cena do filme Garganta Profunda 1972
Linda Lovelace e Harry Reems, no papel do Dr. Young, em cena de “Garganta Profunda” (1972)

Segundo um artigo do O Globo, o filme, considerado “obsceno”, enfrentou diversas manifestações de grupos conservadores contrários à sua exibição e foi proibido em 23 estados americanos, mas circulava clandestinamente com a ajuda da máfia.

Apesar de tudo, a obra se tornou um marco, despertando a atenção de homens e mulheres da classe média americana. A revista “Variety”, o jornal “The New York Times” e os estúdios “Paramount” também destacaram a importância do longa, que logo se tornou uma espécie de trincheira avançada da vanguarda intelectual.

“Garganta Profunda” foi o pontapé inicial para modificar a maneira como as pessoas e a indústria do entretenimento encaravam o cinema pornô. Em seu ano de lançamento, a obra arrecadou mais de US$ 90 milhões ao redor do mundo, se tornando o filme mais lucrativo da história do cinema pornô. Estimativas apontam que seu faturamento total tenha ultrapassado os US$ 600 milhões.

Com o passar do tempo, o filme passou a ser lembrado como o mais famoso e bem-sucedido pornô de todos os tempos, sendo celebrado como “cult” e chegando, inclusive, a ser listado entre os cem maiores clássicos do cinema no ranking feito pela BBC em 2006.

A terceira onda do pornô

Em 1976 o vídeo cassete foi lançado e indicou um dos eventos mais significantes na indústria de filmes adultos da história. De certa forma, o VHS reduziu o custo de distribuição e tornou a produção mais barata, o que ajudou a expandir a audiência de filmes pornográficos. Segundo a ex-atriz pornô, que se tornou uma icônica produtora de filmes pornográficos, Candida Royalle, o videocassete permitiu que você assistisse aos filmes pornôs na segurança e no conforto de sua casa. “Isso dava às pessoas um lugar privado, em vez de ter que se sentar em um local público encardido”.

Junto com o os aparelhos reprodutores de vídeo, surgiram as câmeras portáteis. Além da portabilidade, as filmadoras eram baratas e possuíam recursos que facilitavam alguns dos aspectos mais complicados de uma filmagem. Os pornógrafos profissionais começaram a produzir exponencialmente mais filmes a um custo muito inferior do que era possível com qualquer tecnologia anterior. E eles se juntaram a uma nova força no pornô, o amador.

A democratização que se iniciou com os filmes pornográficos amadores alcançou seu apogeu com sites como o YouTube, em que nem a tecnologia nem o talento representam qualquer barreira para a produção de filmes.

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